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Crise habitacional faz pessoas recorrerem a sorteio para alugar apartamento na Espanha

Com alta de 82% nos aluguéis na última década, 44.000 pessoas concorrem a 64 moradias sociais na capital espanhola

Exame.
Crise habitacional faz pessoas recorrerem a sorteio para alugar apartamento na Espanha Sergio Encinas (E) e sua parceira Lorena Pacheco posam em seu apartamento em Madri em 20 de fevereiro de 2025 - (crédito: Pierre-Philippe MARCOU / AFP)

A capital espanhola enfrenta uma crise habitacional sem precedentes, evidenciada pelo recente sorteio de apartamentos sociais promovido pela prefeitura de Madri. Ao todo, 44.000 pessoas se inscreveram para concorrer a apenas 64 moradias disponíveis, refletindo a gravidade do déficit habitacional na cidade.

A sensação de conquista de quem foi sorteado

Lorena Pacheco, de 30 anos, foi uma das contempladas no sorteio.

"Foi uma sensação de muita felicidade, parecia que eu estava fora da realidade"

Relatou a jovem, que acompanhou o sorteio ao vivo pelas redes sociais. O aluguel de seu novo apartamento será de 550 euros (cerca de R$ 3.328), valor significativamente inferior à média praticada no mercado imobiliário madrilenho.

Frustração e desafios de quem ainda não conseguiu acesso à moradia

A situação de Pacheco não é isolada. Seu namorado, Sergio Encinas, de 31 anos, expressa frustração por depender da sorte para sair da casa dos pais.

"É muito triste, porque tenho um emprego de 40 horas semanais, mas com meu salário de 1.200 euros (cerca de R$ 7.500) não consigo morar sozinho"

Desabafa o vendedor.

A disparada dos aluguéis em Madri

Nos últimos dez anos, os aluguéis em Madri aumentaram 82%, conforme dados do portal imobiliário Idealista. Essa escalada nos preços tem levado muitos a adiar a independência ou buscar alternativas precárias de moradia. Atualmente, a cidade dispõe de apenas 9.200 moradias sociais para seus 3,4 milhões de habitantes, um dos índices mais baixos da União Europeia. Em contraste, Paris possui 260.750 moradias sociais para 2,1 milhões de residentes, e Berlim conta com 100.000 para uma população semelhante à de Madri.

Sorteios: uma esperança para os jovens e famílias

Para tentar mitigar a situação, a prefeitura de Madri realiza sorteios trimestrais, disponibilizando entre 50 e 200 apartamentos sociais por vez.

"Mais de 80% dessas moradias são destinadas a jovens de menos de 35 anos e famílias com filhos menores"

Afirma Álvaro González, responsável pelo setor de habitação da cidade. O programa assegura que os inquilinos não desembolsem mais de 30% de sua renda mensal com aluguel. Contudo, apenas 1% dos candidatos conseguem uma moradia por meio desse sistema.

O déficit habitacional e as soluções necessárias

Especialistas alertam para um déficit habitacional na Espanha que atinge 600.000 unidades. Atualmente, o país constrói cerca de 90.000 moradias por ano, enquanto a demanda cresce em 120.000 unidades anuais. Além disso, a expansão dos aluguéis para turistas tem agravado a crise. Cidades como Madri, Barcelona e Valência registram aumentos médios de 20% ao ano no preço dos aluguéis.

A crescente insatisfação da população e os protestos nas ruas

A insatisfação da população tem levado milhares de pessoas às ruas para protestar e exigir soluções. O governo promete expandir a oferta de moradias sociais, mas os números mostram que o desafio está longe de ser resolvido.

Um reflexo de uma crise europeia mais ampla

A situação em Madri reflete uma tendência observada em outras grandes cidades europeias, onde a combinação de aumento populacional, investimentos imobiliários e turismo de curta duração tem pressionado o mercado habitacional. A busca por soluções eficazes e sustentáveis é essencial para garantir o direito à moradia digna para todos.




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